terça-feira, 5 de outubro de 2010

Capítulo 2



22 de Novembro de 2016
14:30


O ruído à sua volta parecia ter sido calado durante o seu sono. Uma dor aguda pressionava as suas fontes, fazendo com que fosse difícil abrir os olhos. Tentou pôr os pensamentos em ordem, mas também era difícil abstrair-se da dor e pensar.
Tinham-lhe dito que ele sofrera um acidente, mas ele não se recordava disso. Custava-lhe pensar com clareza… As últimas coisas de que se lembrava era de ter acordado na ambulância e depois no hospital…
Ouviu passos e murmúrios ao seu lado e depois o ruído de uma cadeira a ser arrastada. A sua curiosidade sobre o que o rodeava e onde se encontrava tinha sido aguçada, mas sabia tão bem estar de olhos fechados… A dor ainda se fazia sentir na zona logo por cima dos seus olhos, o que lhe dava uma boa desculpa para os manter fechados.
Deixou-se ficar naquele limbo mais alguns minutos… Ou horas. Não tinha bem a noção do tempo porque acordava e adormecia frequentemente. Não sentia fome, nem sede, nem qualquer outra necessidade vital, a não ser descansar.
De repente, um pensamento estranho cruzou a sua mente. Estaria morto?
Ele podia sentir a cama dura por baixo dele, sentia o lençol fino que o tapava da cinta para baixo e a almofada fofa que lhe elevava um pouco a cabeça. Ouvia os passos e as vozes das pessoas que passavam constantemente de um lado para o outro no corredor. Doía-lhe a cabeça e sabia que estava a respirar. Por isso, não podia estar morto. Mas como podia ele ter a certeza se nunca tinha estado morto antes e não sabia como era?
Decidiu abrir os olhos e tirar as dúvidas. Deu consigo a olhar para um tecto branco. Olhou em volta e percebeu que estava num quarto de hospital. Havia alguém sentado numa cadeira ao seu lado. Era uma senhora de meia-idade que tinha o olhar triste perdido na janela da parede em frente a si. Um pouco mais de concentração permitiu a Tom reconhecê-la.
- Mãe?
A senhora assustou-se com o sussurro quase inaudível e olhou alarmada para ele sem perceber bem se ele tinha falado ou gemido de dor. Ao vê-lo acordado e a olhar para si, os seus olhos encheram-se de lágrimas.
- Tom, meu querido! – exclamou ela, tomando as mãos dele nas suas – Está tudo bem, meu filho, já passou!
Acariciou a cara dele, fazendo-o franzir o sobrolho por causa das picadas de dor que as mãos ávidas dela causavam ao passar pelos cortes.
- Au! – queixou-se ele, fazendo a D. Simone dar uma pequena risada nervosa.
- Sempre foste sensível à dor, meu pequenino… - disse ela, olhando-o afectuosamente.
- Tom! – guinchou uma mulher à porta do quarto.
Simone afastou-se rapidamente para evitar ser abalroada pela rapariga, que correra para a cama para poder abraçar Tom. A visão dele foi tapada pelo cabelo castanho claro dela, sem lhe dar tempo para a reconhecer.
- Ele acordou mesmo agora – informou Simone – Ainda tem algumas dores por isso tem cuidado…
- Ó meu amor, pregaste-nos um susto tão grande! – exclamou a mulher, sentando-se na beira da cama de Tom e pondo a mão no peito dele.
Ele olhou confundido para ela, pois não a reconhecia de lado nenhum. Provavelmente era uma fã que tinha convencido a sua mãe a deixá-la entrar no quarto.
- Bem, eu vou-te deixar a sós com a Lori e volto amanhã, sim? – Simone beijou Tom na testa e virou-se para pegar na sua mala.
- Lori?! – disse ele, confuso.
Quem diabos é a Lori e porque é que a minha mãe me deixou sozinho com esta maluca?” pensou ele, furioso com a mãe por ser tão ingénua e acreditar em tudo o que as pessoas lhe dizem.
- Sim, amor? – respondeu a mulher sentada na sua cama.
Tom achou aquilo estranho. Por mais ingénua que a sua mãe fosse, ela nunca o deixaria a sós com uma estranha que o tratava por “amor”. E onde estavam os seus guarda-costas quando precisava deles?
- Olha, desculpa, mas eu não estou a reconhecer-te – disse o Tom, receoso que ela fizesse alguma loucura por ele não se recordar de um possível encontro prévio entre eles.
- Ó Tom, não brinques com coisas sérias… - proferiu ela com uma expressão meia amuada – Fiquei em pânico quando me contaram o que te tinha acontecido… A culpa é toda minha amor, desculpa!
Os olhos dela encheram-se subitamente de lágrimas, o que apenas contribuiu para aumentar a confusão de Tom. Aquela tal de Lori devia ser mentalmente perturbada! Ela tratava-o como se se tivessem conhecido toda a vida, mas ele não fazia a mínima ideia quem ela era! E porque tinha ela dito que a culpa do acidente dele tinha sido dela? Tom fez um esforço para se recordar do acidente, mas não se lembrava de nada… Não sabia sequer em que circunstâncias tinha ocorrido o dito acidente.
Ficou sem saber o que fazer quando ela começou a chorar copiosamente e só desejava silenciosamente que alguém entrasse e o salvasse daquela situação.
Como que atendendo às suas preces, um médico de aspecto simpático entrou no quarto. Ao ver Lori tão chorosa e o ar de pânico de Tom, dirigiu-se de imediato a ela para a confortar.
- Então Sr.ª Kaulitz, então? O seu marido já acordou, o pior já passou! Não há razão para ficar nesse estado – disse ele com uma mãe no ombro dela, tentando acalmá-la – Não quer ir até lá fora beber um copo de água enquanto eu falo aqui com o paciente?
Ela abanou a cabeça afirmativamente e saiu sem dizer uma palavra, ainda a limpar as lágrimas.
- O senhor desculpe… Mas o senhor chamou-lhe “Sr.ª Kaulitz”? – perguntou o Tom, sem saber bem o que pensar daquele circo.
- Sim… Mas, desculpe, eu não estou a perceber a sua questão, Sr. Kaulitz… - respondeu o médico, também confuso.
- Ela é da minha família? É suposto eu conhecê-la?
- Ela é sua esposa! – exclamou o médico perplexo - O senhor não se recorda?
Tom abriu a boca num gesto de espanto. Se não fossem as dores que sentia, era capaz de acreditar que tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto.
- Como é que eu me posso recordar da minha esposa se nem me lembro de alguma vez ter casado? – perguntou ele com a voz alterada por uma pontada de pânico.
A confusão na cara do médico passou a uma expressão de entendimento, como se, subitamente, tudo fizesse sentido.
- Sr. Kaulitz, qual é a última data de que se recorda?
O Tom fez um esforço para se lembrar. Recordava-se de ter ido a um jantar de família em casa da mãe. Lembrava-se de ter regressado a casa com o Bill e também se lembrava que estava cheio de sono… Se calhar tinha adormecido durante a viagem e por isso é que não se recordava do acidente.
Mas nesse caso…
- O Bill? Ele está bem? – interrogou ele de repente, temendo que o pior tivesse acontecido.
- Bill? Quem é o Bill?
- O meu irmão!
- Não tive conhecimento da entrada do seu irmão no hospital, mas posso averiguar… Mas por agora é importante voltar ao assunto anterior, por favor – insistiu o médico.
Tom contou ao médico o que se lembrava mas disse que não sabia a data ao certo.
- Mas sei que fiz 20 anos no mês passado – acrescentou ele com confiança.
O médico olhou para a ficha dele com ar grave e pegou na caneta para escrever. Tom esperou pacientemente que o médico acabasse e era com ansiedade que o olhava quando este guardou a caneta no bolso da bata branca.
- Sr. Kaulitz, segundo as informações que eu tenho aqui, dadas pela sua mãe, o Sr. fez 20 anos em Setembro de 2009, certo? – Esperou que o Tom concordasse com um aceno de cabeça e continuou – Lamento então informá-lo que estamos em Novembro de 2016.
Tom sentiu-se como se o mundo estivesse a desabar sobre si. O que o médico estava a dizer não podia ser verdade! Olhou-o incrédulo e descrente, esperando que ele se começasse a rir às gargalhadas, o que não aconteceu.
- O que é que acabou de dizer?
- O Sr. sofre de amnésia.
 
 
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