sábado, 23 de outubro de 2010

Capítulo 6



13 de Dezembro de 2016
15:48


- Obrigado por vires, pá – agradeceu o Tom, ao despedir-se de Gustav – Como vês, eu não estou autorizado a sair de casa…
- Na boa. Pensa naquilo que eu te disse, é um assunto sério – acrescentou ele em voz mais baixa, para que Lori não ouvisse.
A porta fechou-se atrás de Gustav e Tom começou imediatamente a pensar num plano para confrontar Lori com o que Gustav lhe tinha contado. Foi sentar-se no sofá da sala e enquanto esperava que Lori acabasse de arrumar a cozinha, pegou num álbum de fotografias do seu casamento. Deu uma vista de olhos pelas primeiras fotos e dedicou a sua atenção a uma em particular, onde estavam todos os convidados reunidos à porta da igreja. Analisou-a cuidadosamente, olhando para cada um dos rostos em particular, para ver quantos conseguia identificar. Ficou mais alegre ao constatar que recordava a maioria.
- Foi um casamento lindo – comentou Lori atrás de si, num tom baixo e suave.
Tom não respondeu. Olhava para si próprio, vestido com um fato preto e uma rosa branca na lapela. Aquela pessoa na foto parecia feliz mas havia uma sombra na sua face que indicava que algo não estava bem. Apesar de tudo, sorria, de braço dado com uma mulher linda, vestida de branco, que não conseguia esconder que aquele era o dia mais feliz da sua vida.
Só então reparou na ausência de uma pessoa que deveria ter estado ao seu lado naquele dia. De repente, tudo começou a fazer mais sentido.
- Lori, senta-te aqui ao meu lado – pediu ele.
O seu tom mostrava tanta confiança que ela fez o que lhe era pedido sem fazer qualquer pergunta.
- Notas alguma coisa estranha nesta fotografia? – perguntou ele enquanto lhe passava o álbum para as mãos.
Ela olhou para a foto e percebeu imediatamente a seriedade da situação. Não valia a pensa esconder o óbvio, por isso, Lori respondeu com a verdade.
- Falta o Bill.
- Pois falta… - Concordou o Tom – Fazes alguma ideia porquê?
- Tom…
- Quero a verdade, desta vez – interrompeu o Tom, assim que ela começou a falar.
- Vocês estavam chateados, não sei porquê, e o Bill decidiu não ir ao nosso casamento… - contou ela – Tu deixaste de falar com ele desde então…
- Não sabes mesmo porque é que nós estávamos chateados?
Ela não respondeu, mas abanou a cabeça negativamente. Ele suspirou e praguejou em silêncio. Era costume os gémeos não contarem a ninguém o motivo das suas discussões, mas nenhuma delas durava mais do que algumas horas. Esta, no entanto, parecia ter sido a pior de todas. Alguma coisa muito grave se tinha passado para o Bill chegar ao ponto de não ir ao casamento de Tom.
Lori observava Tom apreensiva, enquanto ele pensava furiosamente. Não se atrevia a dizer nada nem sequer a tentar ir embora. Pressentia que o interrogatório ainda não tinha acabado.
Efectivamente, pouco tempo depois, Tom olhou para ela com ar sério.
- O que é que se passou na noite em que eu tive o acidente?
- Eu já te contei, Tom…
- Sim, mas eu quero saber a verdade.
Ela olhou-o fixamente com a boca ligeiramente aberta. Aquela súbita frieza de Tom deixava-a um pouco intimidada. Será que ele se tinha recordado de alguma coisa?
- Tom, eu não te menti – recomeçou ela, mas interrompeu o seu discurso quando Tom fechou os olhos e respirou fundo. Ela conhecia aquele sinal. Ele estava furioso, mas tentava controlar-se.
- Loretta, eu quase morri naquela noite – disse ele, com uma calma assustadoramente gélida – Eu perdi todas as minhas memórias dos últimos anos. Mereço a verdade, não achas?
Uma lágrima correu apressada pela cara de Lori, que continuava a fixar Tom. Ela cobriu a cara com as mãos e Tom viu os ombros dela tremer por causa do choro abafado.
- Nós discutimos… - disse ela por fim, entre soluços – Uma coisa estúpida e sem sentido… Mas tu saíste para espairecer e não voltaste… E eu culpo-me todos os dias!
Tom sentiu alguma compaixão por ela, mas não se deixou abalar. Se ela tinha mentido nisto, provavelmente tinha mentido sobre outras coisas e, nesse caso, Gustav tinha razão. Seria Lori capaz de plantar memórias falsas em Tom? Conseguiria ela descer tão baixo e aproveitar-se do estado debilitado e vulnerável de Tom para ganhar o seu amor novamente?
Ele não sabia, não conhecia Lori. Não sabia o que ela era capaz de fazer, mas não ia descansar até chegar ao fundo da questão.
- Em que mais é que mentiste? – perguntou ele, olhando de novo para ela – Por favor, diz a verdade. Eu preciso de saber!
Ela soluçou durante alguns momentos e depois recompôs-se. Limpou as lágrimas e adoptou uma postura um pouco mais forte. Pôs-se de pé e caminhou até à janela.
- O nosso casamento… Não é dos melhores… - confessou ela, enquanto afastava a cortina para olhar lá para fora – Estamos sempre a discutir…
Lori virou-se e enfrentou o olhar duro de Tom, que parecia trespassá-la como facas afiadas.
- Mas eu não gosto de viver assim, Tom! Eu amo-te! – afirmou ela com convicção.
- Tu mentiste-me e… O que tu fizeste é muito grave, Lori! – respondeu ele, após alguma hesitação – Não podes simplesmente aproveitar o facto de eu não me recordar do passado e inventar o que te apetece como se fosse tudo verdade!
- Eu sei, eu sei! Mas eu tive medo que já não me amasses como antes! – Lori voltou a sentar-se ao lado de Tom e olhava para ele desesperada – Eu acho que já não consigo viver sem ti…
Foi a vez de Tom se levantar. Ela estava a tornar tudo mais difícil com aquela cena de apaixonada desesperada! Ela tinha agido mal, tinha-lhe mentido, tinha tentado aproveitar-se dele e manipulá-lo. Ele não conseguia perdoar isso, nunca conseguiria confiar nela novamente!
Tinha que tomar uma decisão difícil, mas não ia ceder. Não podia viver com uma pessoa em quem não confiava nem acreditava.
- Eu acho que é melhor… darmos um tempo – disse ele finalmente.
Ela olhou incrédula para ele, sem saber o que responder. Mais lágrimas brotaram dos seus olhos castanhos, que desapareceram por detrás das mãos dela quando ela cobriu a cara para que ele não a visse chorar.
 
 
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