domingo, 2 de janeiro de 2011

Capítulo 12



Tom ouviu passos cuidadosos entrar no seu quarto. Fingiu estar adormecido porque estava cheio de preguiça e não se queria levantar já. Manteve os olhos fechados e tentou não se mover, na esperança de que quem quer que fosse percebesse a dica e fosse embora. No entanto, poucos segundos depois, sentiu a cama baixar uns centímetros, sinal indicativo de que alguém se tinha sentado nela.
- Tom?
A voz suave de Bill chamava por ele. Tom sabia que o Bill não o acordaria tão cedo num domingo a não ser que fosse alguma coisa mesmo importante.
- Diz… - respondeu ele, não se preocupando em fazer de conta que estava a acabar de acordar.
- Preciso de falar contigo sobre uma coisa mesmo importante e urgente – disse o Bill.
Tom percebeu o tom sério com que Bill falava e sentou-se na cama, esfregando os olhos. Bocejou longamente, de modo bastante audível, e fitou o seu irmão comum ar cansado.
- Diz lá, manito…
Bill hesitou e ficou em silêncio durante uns segundos. Aparentemente, travava uma forte luta interna. Finalmente, pareceu decidir-se e fez questão de olhar Tom nos olhos quando falou.
- Eu sei quem ameaçou a Labine.
Tom sentiu-se subitamente bem desperto e alerta. Durante meses tinham seguido pistas, tentando chegar à fonte das ameaças que tinham afastado Labine de Tom, sem qualquer resultado. Quase todas as pistas levavam a um beco sem saída, umas porque eram completamente falsas, outras porque a saída estava bem camuflada.
- Quem foi? Quando descobriste? E como? – disparou Tom, fixando o seu irmão com os olhos arregalados de surpresa.
- Calma, uma pergunta de cada vez… - respondeu Bill, arranjando uma posição mais confortável ao lado de Tom – Descobri agora mesmo porque ouvi uma conversa que não devia…
- Que conversa? Bill, deixa-te de rodeios e conta-me tudo! – implorou Tom, extremamente impaciente.
- Tom… Foi a Lori, Tom… Foi a Lori e um grupo de amigas que perseguiram e ameaçaram a Labine para a afastar de ti!
Os olhos de Bill brilhavam por causa das lágrimas que se tinham formado de repente, ao ver a descrença e o desapontamento no olhar do seu irmão.
O silêncio apoderara-se de Tom, que não conseguia emitir qualquer som. O seu cérebro parecia ter congelado e aquelas palavras, que por mais que fosse verdadeiras teimavam em parecer falsas, ecoavam indefinidamente dentro da sua cabeça.
- Não pode ser, Bill – respondeu ele, finalmente, abanando a cabeça de um lado para o outro – A Lori nunca faria uma coisa dessas! Não pode ser, não acredito nisso!
- Tom, porque é que eu te mentiria? Que razões tenho eu para te contar uma coisa que não é verdadeira?
Tom pareceu ficar momentaneamente sem argumentos, mas depressa voltou à carga.
- Tu nunca gostaste da Lori! – exclamou ele, levantando-se de repente – Tu queres é separar-nos!
Bill levantou-se também e fitou o seu irmão do outro lado da cama. Era verdade que Bill nunca tinha gostado tanto de Lori como de Labine, mas sabia que Tom a amava e nunca lhe passaria pela cabeça separá-los. Mesmo depois de explicar isto, Tom continuou a não acreditar na sua palavra.
- Eu pedi-a em casamento ontem à noite e ela aceitou! Não nos vamos separar por causa de um capricho teu! – Tom quase gritou, apontando um dedo acusador ao irmão – Eu amei a Labine, muito mesmo, mas ela é passado! Ela é que decidiu desistir, ela é que não foi forte o suficiente para enfrentar o mundo ao meu lado! Se gostas assim tanto dela, corre! Pode ser que ainda a apanhes!
Bill estava simplesmente incrédulo. Sentia-se progressivamente mais vazio a cada palavra proferida por Tom. Começava a achar que tinha tomado uma decisão errada ao contar a Tom o que ouvira Lori dizer, mas não podia deixar o seu irmão na ignorância quanto à pessoa com quem ele partilhava a cama!
- Eu não acredito que acabaste de dizer isso, Tom! És mesmo estúpido se pensas que eu estou a mentir! – Bill sentiu uma ira enorme. Queria libertar a raiva que o consumia, expulsar Loretta daquela casa e da vida de Tom. Agora sim, queria vê-los o mais longe possível um do outro. Ela estava a modificar o comportamento de Tom, estava a virar os irmãos gémeos um contra o outro! Seria ele o único capaz de perceber isso?
- Só podes estar a mentir, Bill! – insistia Tom, impermeável às emoções do irmão – Eu conheço a Lori, ela não era capaz de fazer o que tu dizes que ela fez!
- Se te casares com ela… - Bill estava prestes a explodir perante tal injustiça de Tom – Eu não ponho os pés no teu casamento!
Tinha chegado ao desespero e aquilo saiu-lhe sem pensar, talvez por, inconscientemente, pensar que seria a única maneira de demover Tom da estupidez que estava a cometer.
Ficaram a olhar um para o outro durante tempos infinitos, Tom com a respiração acelerada e Bill com um ar infelicíssimo.
- Se não fores ao meu casamento… - começou Tom, aparentando uma calma que não sentia – Se não fores eu nunca mais te perdoo, Bill!
Bill sentia-se preso entre a espada e a parede, algo que ele odiava. Não suportava que as pessoas fizessem este tipo de chantagem emocional com ele e nunca admitiria uma coisa destas do seu irmão. Não aguentou mais e caminhou depressa até à porta. Antes de sair, virou-se para trás e encarou Tom com um ódio que nunca tinha sentido antes.
- Eu odeio-te! – gritou ele, antes de bater a porta com força.

Tom abriu os olhos de repente. Por momentos, tinha pensado que o ruído que ouvira tinha sido a porta a bater mas rapidamente percebeu que estava enganado. Acordara sobressaltado com um trovão que explodiu mesmo por cima da casa dele e fez um ruído ensurdecedor.
Virou-se para o outro lado e cobriu a cabeça com os cobertores, de modo a minimizar o barulho da trovoada ao máximo, para poder voltar a adormecer até a manhã chegar.
 
 
Copyright © A Tua Imagem
Blogger Theme by BloggerThemes Design by Diovo.com