sábado, 9 de outubro de 2010

Capítulo 4



23 de Novembro de 2016
11:59

Tom olhava com ansiedade para o relógio analógico no corredor do hospital, visível da sua cama. Faltava um minuto para começar a hora das visitas e ele tinha a certeza que a sua mãe ia estar lá em baixo na recepção à espera para poder entrar. Tinha tantas perguntas para lhe fazer…
O ponteiro das horas e o dos minutos sobrepuseram-se nas 12h e Tom soltou um suspiro um pouco prolongado. Já não devia faltar muito para a sua mãe entrar no quarto e aí poderia ver todas as suas dúvidas esclarecidas.
Alguns minutos depois, as suas suspeitas confirmaram-se. A D. Simone espreitou pela porta, para ver se o seu filho estava acordado.
- Mãe, ainda bem que chegaste! – exclamou ele de imediato.
- Bem, que entusiasmo! Passou-se alguma coisa?
- Não, queria só fazer-te umas perguntas…
Cumprimentou a mãe com dois beijos na cara quando ela chegou ao pé dele e esperou que ela se instalasse na cadeira ao lado da cama.
- Quando é que o Bill vem cá? – perguntou ele sem rodeios, olhando atentamente para a mãe. Queria apanhar na reacção dela todos os sinais de más notícias que ela poderia querer esconder.
Ela hesitou na resposta e não olhou para o filho quando respondeu.
- Não sei, Tom. Ele tem estado muito ocupado…
- Desde quando é que o Bill está demasiado ocupado para ir ao hospital visitar o seu irmão gémeo moribundo? – Tom ignorou o estremecimento da mãe ao ouvir a expressão que ele usou para descrever o seu próprio estado. Sentiu-se enganado pois a sua relação com o Bill sempre tinha sido muito próxima – Além disso, a banda não pode fazer nada sem mim…
A D. Simone olhou para ele com um ar triste e cheio de pena. Por alguns momentos não disse nada e Tom não a pressionou. Queria que a mãe falasse de livre e espontânea vontade e dissesse a verdade, não apenas o que ela achava que seria melhor para ele.
- Não te lembras mesmo, pois não?
Tom apenas abanou a cabeça de um lado para o outro como resposta. Sentia o coração a bater com força na sua garganta, criando um nó que o impossibilitava de falar. Pela expressão da mãe, percebia que alguma coisa grave se tinha passado e tinha receio do que vinha a seguir.
- Tom, a relação entre ti e o teu irmão já não é a mesma de sempre - Simone falou devagar, escolhendo as palavras cuidadosamente – Eu não sei de quem foi a culpa, ou sequer se alguém teve culpa, mas vocês começaram a afastar-se cada vez mais… E a certa altura deixaram mesmo de se falar. E a banda… Bem, a banda acabou.
Tom olhava perplexo para a mãe. Ele e o Bill não se falavam? A banda tinha acabado? Como é que isso era possível? Com as memórias que tinha, isso era impossível de, sequer, ponderar. Estavam no auge! Nunca na vida lhes passaria acabar com a banda numa altura tão próspera para eles! E o Bill… Sim, eles sempre tinham tido algumas divergências. Mas o que de tão grave se tinha passado para eles chegarem ao ponto drástico de cortar relações?
A mãe não lhe sabia dizer. Os filhos nunca lhe tinham contado o porquê da discussão e ela, apesar de os tentar reconciliar por várias vezes, nunca os pressionou a falar do assunto.
Tom estava cada vez mais confuso. Tudo aquilo parecia um pesadelo e ele só desejava poder acordar o mais depressa possível!


***


12 de Dezembro de 2016
15:30

Tom estava em amena cavaqueira com uma enfermeira jovem que lhe tinha ido medir o nível de glicose no sangue quando o médico que o acompanhava entrou no quarto.
- Então, como vai isso? – perguntou ele, chegando-se ao pé da enfermeira para ver os resultados do teste.
- Está óptimo, doutor –respondeu ela, entregando-lhe os documentos que segurava na mão.
O médico analisou com cuidado o relatório médico e sorriu.
- Tenho boas notícias, Tom. Em princípio, vai ter alta hoje!
- Fantástico! – respondeu o Tom, com um grande sorriso – Aqui não se faz nada, estou farto de estar todo o dia parado…
- Ah, mas só vai sair se me prometer que vai descansar e não vai fazer esforços! Queremos que as suas lesões se curem por completo o mais rápido possível! E vai ter consultas periódicas para vermos como está a sua memória.
Lori, que tinha ido à casa de banho, regressou naquele preciso momento e olhou de soslaio para o médico, enquanto se sentava na cadeira ao lado a cama de Tom.
- Lori, tenho uma notícia para te dar – disse ele com ar grave, antes que ela pudesse sequer falar.
- O que é, amor? –perguntou ela receosa, ao ver a sua cara séria.
- Logo à noite já vou dormir a casa! – exclamou ele, entusiasmado.
- Oh, que bom! – replicou ela, batendo palmas – Tenho tanta coisa para te mostrar! Já estive a separar umas fotografias e uns vídeos para vermos juntos e relembrar o passado!
Depois de algumas últimas indicações, o médico saiu, acompanhado da enfermeira e Lori recomeçou a falar. Não parou de fazer planos para os dias seguintes e Tom perguntou-se, pela milionésima vez desde que estava ali, porque é que tinha casado com ela.
 
 
Copyright © A Tua Imagem
Blogger Theme by BloggerThemes Design by Diovo.com