domingo, 5 de dezembro de 2010

Capítulo 9



14 de Dezembro de 2016
12:33


A campainha tocava insistentemente no andar de baixo. Tom gemeu irritado porque a campainha parecia estar a tocar dentro da sua cabeça. Fez uma nota mental para mudar aquele toque para um mais agradável e levantou-se.
Vestiu o roupão e desceu as escadas mal-humorado. Quem quer que fosse ia ouvir umas quantas por não ter maneiras nenhumas e o ter acordado tão cedo! Abriu a porta e preparou-se para mandar embora quem lá estivesse mas não teve tempo para isso.
- Até que enfim, Tom! – exclamou a D. Simone, dando um beijo rápido na testa do filho – Estava a ficar preocupada, podia ter acontecido alguma coisa…
Apressou-se a entrar com vários sacos de plástico na mão, deixando Tom especado à porta.
- Por acaso aconteceu, mãe… - disse ele, batendo a porta com um pouco de força a mais.
- O quê? – perguntou ela, parando a meio caminho da cozinha para olhar para ele, preocupada.
- Adormeci! - Respondeu ele, caminhando até à mãe para a acompanhar - Estive acordado a noite toda, a ver as horas a passar e quando o sol nasceu, finalmente adormeci! E tu vens e acordas-me a estas horas!
Tom sentou-se num dos bancos altos junto à mesa central e observou a mãe enquanto ela pousava as sacas e tirava de lá vários tupperwares com diferentes formas e tamanhos.
- Tom, é hora do almoço. Estava na hora de acordares, não achas?
Pela primeira vez desde que tinha acordado, Tom olhou para o relógio. Ela tinha razão, apesar de, para Tom, parecer muito mais cedo.
- Que trazes aí? – perguntou ele, amarrotando uma das sacas vazias na mão.
- É comida – respondeu ela, olhando-o como se fosse a resposta mais óbvia do mundo.
- Para quê?
- Para dar aos cães… - disse ela ironicamente, olhando para dois tupperwares diferentes enquanto ponderava qual deles deixar de fora e qual meter no frigorífico.
- Eu não tenho cães…– disse ele, um pouco frustrado por ela não estar a perceber o objectivo da pergunta - Porque é que me trouxeste comida?
- A Lori telefonou-me de manhã cedo e contou-me o que se passou – Simone fechou o frigorífico e ocupou o lugar ao lado de Tom – Ela pediu-me para tomar conta de ti na ausência dela.
- Eu não preciso que tomem conta de mim, muito obrigado… Eu já tenho vinte… - hesitou, pois a sua idade real era diferente da que ele se lembrava ter – …E seis anos. Sou perfeitamente capaz de viver sozinho.
Tom odiava ser tratado como uma criança ou como um inválido. Sempre fora muito independente, tal como o seu irmão. Simone passou afectuosamente a mão na cara de Tom e sorriu.
- Eu sei, meu filho. Mas eu nunca disse que me ia mudar para aqui, pois não?
Ele olhou para a mãe e sorriu também. Ela sempre tinha dado muita liberdade aos filhos, mas a verdade é que sempre que eles precisavam da mãe, ela estava lá. Eles nunca precisavam de lhe pedir ajuda porque ela sabia sempre quando intervir.
O Tom estava a precisar de desabafar com alguém e a pessoa que melhor o podia amparar era a mãe. Contou-lhe tudo o que se tinha passado e o porque de ter pedido a Lori para sair de casa durante uns tempos. Confessou-lhe as suas dúvidas e incertezas e pediu-lhe conselhos.
- Tom, eu não posso dizer se o que fizeste foi correcto ou não porque apenas tu podes saber isso – explicou ela – Eu sempre te disse para seguires o que o teu coração diz porque é sempre o melhor para ti. Se achas que tudo isto era necessário, então eu apoio-te… Se não, telefona-lhe já.
Tom pensou por uns minutos. Lori estava a sofrer por causa dele. Mas ela tinha cometido um erro gravíssimo que Tom não podia perdoar para já. Ele sabia que não ia conseguir viver com ela, falar com ela, vê-la a todas as horas. Não ia conseguir acreditar nas suas palavras, mesmo que fossem sinceras! Podia não ser o mais correcto, mas era definitivamente necessário e isso ele não podia mudar.
As horas foram passando e a disposição de Tom foi melhorando. Era sempre bom ter alguém com quem conversar. Passearam pelo jardim e pela zona da piscina e resistiram à vontade de dar um mergulho apenas porque estava demasiado frio.
Depois do lanche, Simone anunciou que tinha que se ir embora porque ainda demorava a chegar a casa e não gostava de conduzir à noite. Tom agradeceu a tarde e a ajuda que ela lhe tinha dado e despediu-se, ficando à porta até não ver mais o carro.
Sozinho com os seus pensamentos, Tom foi até à sala e sentou-se no sofá. Enquanto mudava o canal de televisão para um onde estivesse a dar alguma coisa mais interessante, pegou no telemóvel e entrou na lista de contactos. Navegou pela lista de contactos e encontrou o nome “Bill”. O seu polegar pairou durante muito tempo sobre a tecla verde. De cada vez que o aproximava para clicar, a coragem faltava-lhe e o polegar retrocedia novamente. Após alguns minutos, começou a achar aquela cena extremamente estúpida e acabou por guardar de novo o telemóvel no bolso.
No entanto, aquilo não lhe saía da cabeça. Num acto impulsivo, pegou novamente no telemóvel e ligou ao seu irmão. Encostou o telemóvel à orelha e começou a ouvir o repetitivo tom de chamada. A coragem esvaía-se a cada segundo que passava e estava prestes a desligar quando ouvir um som diferente.
- Sim?
 
 
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