quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Capítulo 10



14 de Dezembro de 2016
19:55

Tom não respondeu imediatamente. Hesitou ao escutar a voz do irmão porque não sabia como iria ele reagir. O seu maior receio era que o Bill desligasse o telefone sem ouvir o que ele tinha para dizer.
- Quem fala? – perguntou o Bill do outro lado, um pouco impaciente.
A sua voz transpirava ansiedade, talvez por saber, lá no fundo, quem estava a fazer a chamada. A ligação que os gémeos sempre tinham tido nunca ia desaparecer, nem com a distância, nem com o tempo. Era algo que tinha nascido com eles e, de igual forma, morreria com eles.
- Olá, Bill – cumprimentou o Tom no seu tom grave.
Como resposta apenas obteve silêncio. A tensão que pairava era quase palpável e os corações de ambos batiam a um ritmo frenético e descompassado, como se estivessem a tentar sair dos respectivos corpos.
- Preciso de falar contigo sobre uma coisa importante, Bill. Não desligues o telefone, por favor… - acrescentou o Tom, para prevenir.
Por momentos, pensou que o irmão ia continuar sem responder, uma vez que o silêncio se manteve. No entanto, o Bill acabou por falar.
- Como estás, Tom?
- Bem, dentro dos possíveis… - respondeu Tom, não conseguindo evitar um sorriso – E tu?
- Eu também estou bem – respondeu simplesmente o Bill.
Tom não estava habituado a ouvir o seu irmão responder-lhe de forma tão fria e hostil e não gostou da sensação. Desejou mais do que nunca vê-lo, tentar resolver tudo e voltar ao que eram antes. Sabia que tinha essa oportunidade agora e não podia falhar.
Tentou pensar em perguntas para fazer, de modo a manter o Bill a falar o máximo de tempo possível.
- Tens falado com a mãe? – questionou ele.
- Tenho – respondeu o Bill – Falei com ela há dois ou três dias.
Tom sentiu-se extremamente magoado com aquela resposta. Bill sabia do acidente pois de certeza que a mãe lhe tinha contado. No entanto, não foi capaz de pôr o orgulho de lado para ir visitar o irmão. Nem sequer um telefonema fizera. O acidente tinha sido muito grave, podia mesmo ter morto Tom, e o Bill nem se tinha dignado a aparecer no hospital.
Apesar de tudo, Tom sabia que esta conversa era crucial para o seu futuro. Se o Bill não se conseguia livrar do orgulho estúpido, o Tom tinha que ser capaz de esquecer a mágoa.
- Olha, será que podias vir a minha casa? Temos de falar, é importante…
Bil não respondeu e remeteu-se, uma vez mais, ao silêncio. Tom conhecia-o demasiado bem e sabia que ele iria aceitar, mas estava a fazer-se de difícil.
- Ouve, a mãe deve ter-te contado o que se passou – disse o Tom, para ajudar o irmão a tomar uma decisão – Eu não sei porque é que nos afastamos, não me lembro! Mas eu preciso de estar contigo, de falar contigo… És o meu irmão!
- A Loretta está aí? – perguntou o Bill.
- Não – respondeu o Tom, achando a pergunta estranha – Ela… Saiu de casa ontem à noite.
- Então… Eu passo por aí amanhã, pode ser? – sugeriu o Bill, com a voz um pouco mais leve e num tom menos frígido.

Tom sentiu-se mais aliviado depois do telefonema. Teve que pedir ao Bill que telefonasse à mãe para lhe dar indicações sobre como chegar até sua casa, porque ainda não tinha tido tempo para tratar desses pormenores. Era muita coisa para decorar e ainda tinha passado pouco tempo desde que voltara a casa.
O telefonema tinha corrido bem. Muito bem, tendo em conta que tinha sido tudo improvisado! Tom estava feliz.


***


15 de Dezembro de 2016
12:00

Desta vez, Tom já estava acordado quando a campainha tocou. Sabia que era o seu irmão. Encaminhou-se para a porta sem nenhuma frase pré-ensaiada. Se o telefonema de improviso da véspera tinha corrido bem, era melhor usar a mesma táctica no o reencontro cara a cara. Através do vidro baço viu a silhueta alta e esguia de Bill e o seu coração começou a bater mais depressa do que o normal.
Quando a sua mão tocou no puxador para abrir a porta, o seu coração batia com tanta força que se via através da camisola. Tal como no dia anterior, parecia querer sair do peito de Tom, como se soubesse que o seu semelhante estava apenas a escassos centímetros de distância. Lentamente, Tom abriu a porta.
Ficaram muito tempo a olhar um para o outro, parados em silêncio. Bill tinha o cabelo preto escorrido cortado pelos ombros, usava uma t-shirt preta com desenhos brancos, umas calças pretas e, ao contrário do que Tom estava habituado, não apresentava qualquer rasto de maquilhagem, fazendo com que os traços femininos da sua face não ficassem tão acentuados.
A certa altura, Tom não aguentou mais e num movimento súbito, abraçou Bill, que não retribuiu de imediato. No entanto, Tom não o largou. Sabia-lhe bem estar com o seu irmão, que era como a sua outra metade. Sempre tinham dito que eram uma pessoa só em dois corpos. Alguns momentos depois, Tom sentiu os braços de Bill rodear as suas costas.
Os seus dois corações estavam novamente a bater junto um do outro e acalmaram-se, acabando por encontrar um ritmo sereno e idêntico.
 
 
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